[Opinião] Sobre as acusações do Ministério Público Federal

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, está sendo acusado pelo Ministério Público Federal de praticar crimes fiscais em 2010, quando ainda comandava o clube.

De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, Andrés e três diretores do clube – Raul Correa da Silva, André Luiz de Oliveira e Roberto de Andrade – teriam sonegado R$ 94,1 milhões em impostos. Segundo a acusação do MPF, os valores eram descontados nas folhas salariais de funcionários, mas não repassados aos cofres públicos.

Para quem vive os intramuros do clube, os fatos que geraram estas acusações não são novidades.

O Corinthians, há décadas – isto mesmo, há décadas – não praticava estes repasses aos cofres públicos.

Quando em 2007, o clube foi assumido pela gestão Andres Sanches, desnecessário relembrar, mas sempre pertinente, o clube não só se encaminhava a passadas largas rumo a segunda divisão, como financeiramente e administrativamente estava quebrado. E isto é fato.

Dívidas das mais variadas, das mais simples as mais complexas. Os pagamentos de algumas dívidas foram priorizados, que garantiriam ao clube um mínimo de respiro financeiro para continuar sendo administrado. 

O rombo destes repasses, naquela época, já era em proporções hospitalares. Portanto, como acontece em muitas empresas a beira da falência, estes compromissos foram postergados, empurrados adiante, apostando em algum acordo futuro.

Como de fato acabou acontecendo e vem ocorrendo, desde 2011.

Em suma, esta é a situação. O que não exime de responsabilidade as gestões do clube, muito pelo contrário. O que chama atenção da opinião da pública, da mídia e principalmente, dos associados e dos torcedores, é que na medida em que o clube é devedor destes repasses, realiza alguns tipos de negócios inexplicáveis e alguns, injustificáveis. 

Jogadores contratados a peso de ouro, sem ao menos entrar em campo, com contratos de trabalhos longos, onerando e sangrando as finanças do clube. 

Por outro lado, o clube se proclama superavitário, a marca mais valiosa do mercado futebolístico brasileiro, mesmo diante dessa situação complicada, hoje, em tese encaminhada, acordos em andamento, mas que por muitos anos, faziam parte da realidade financeira da instituição.

A conta é simples. Se você recebe 10, mas tem que pagar 12, é deficitário. Mas se você recebe 10 e deixa de pagar 3, destes 12, obviamente você passa a ser superavitário. É a tal coisa, do ilegal, imoral ou engorda.

O processo em questão recai pessoalmente sobre os ex-dirigentes – um deles ainda gestor financeiro, Raul Correa – e acredito que não terão problemas para a defesa, já que o clube vem cumprindo com os acordos que originaram este processo.

Mas ninguém gosta de ver seu nome envolvido em coisa errada. Ainda mais porque desta centena – centenas de milhões se considerarmos o “legado” de décadas, que não foram contabilizados por terem “caducado”, valendo apenas os últimos 5 anos – ninguém se apropriou de nada, ninguém comprou iate, nem ilha, com esta grana. Disto, tenham certeza.

E claro, isto tudo que ocorreu agora, sem dúvida tem um viés político. Andres Sanches, candidato a deputado federal, trabalhando forte para chegar a Brasília, combatente das mazelas do futebol brasileiro, apresentando-se como um novo líder nacional do futebol, vêm incomodando, não só gente da bola, como gente do próprio partido.

Tudo se resolverá. Mas o que a gente espera é que todos os clubes, não só o Corinthians, passem a ser geridos com maior responsabilidade, com os pés no chão.

Mas ai precisa combinar com o torcedor.

Que quer ver seu time sempre campeão.

E os clubes?

Passam a investir menos, apostando no atletas que vem da base, colocando em campo equipes modestas e baratas, diminuindo suas chances de fazer frente aos outros clubes, que continuarão fazendo loucuras e contratando jogadores a peso de ouro, gastando muito mais do que recebem ?

O que fazer?