Da seção “Memórias do Futebol – O Blogue não esquece“, um caso que foi abafado.
SÃO PAULO – O vice-presidente de futebol do Palmeiras, Gilberto Cipullo, recebeu pelo menos 200 mil reais do empresário de jogadores Marcelo Ortiz em abril do ano passado. É o que apontam as cópias de dois documentos obtidos pelo iG Esporte nesta semana: um cheque neste valor, assinado por Ortiz e nominal a Cipullo Consultoria Empresarial e Empreendimento LTDA, empresa do dirigente, e um comprovante de depósito nos mesmos valor e data na conta da empresa.
Veja os documentos:
Segundo a explicação de Cipullo, trata-se da devolução de valores que o dirigente colocou no clube para pagamento de dívidas em 2007.
“Verifiquei nos extratos da minha conta e realmente o depósito caiu. Eu coloquei dinheiro do meu bolso para pagar dívidas do Palmeiras, e esse cheque é parte da restituição desses valores”, afirmou o dirigente.
No caso de a versão ser verdadeira, Gilberto Cipullo não teria levado vantagem financeira com a transação. Contudo, o próprio dirigente assumiu que não registrar um empréstimo de sua empresa ao Palmeiras configura uma irregularidade contábil para não aumentar o passivo do clube e evitar que o patrimônio liquido ficasse negativo — o que dificultaria, por exemplo, a obtenção de empréstimos com bancos.
“Eu fui pego de surpresa quando vi esse cheque. O motivo disso ter sido pago à minha empresa através do Marcelo e não de uma maneira regular tem que ser visto com o departamento financeiro do clube”, afirmou, negando ter qualquer intimidade com Marcelo Ortiz. “Isso é claramente uma tentativa de me prejudicar politicamente. E se vier de onde eu penso que veio é uma questão pessoal”, complementou, sem citar nomes.
Nesta segunda-feira, a reportagem tentou por diversas vezes entrar em contato com Salvador Hugo Palaia, que é diretor financeiro do clube, mas ele não atendeu às ligações em seu telefone celular.
“Eu fui pego de surpresa quando vi esse cheque. Isso é uma tentativa de me prejudicar politicamente” (Gilberto Cipullo)
De acordo com o vice-presidente palmeirense, essa não foi a primeira vez que ele colocou dinheiro pessoal para cobrir contas do clube. Dias antes da data do depósito em questão, outros depósitos, no valor total de 400 mil reais, teriam sido feitos na conta da empresa de Cipullo com o mesmo objetivo, o de restituir empréstimos feitos ao Palmeiras pelo dirigente.
Depois de ouvir as explicações do palmeirense sobre o caso, a reportagem pediu que ele apresentasse comprovantes dos depósitos que teria feito na conta do Palmeiras. O iG Esporte recebeu diversos comprovantes do gênero nesta segunda-feira. Dois deles, um no valor de 200 mil reais (março de 2007) e outro de 400 mil (abril de 2007), reproduzimos abaixo.
Marcelo Ortiz, que emitiu o cheque para Cipullo, é empresário de alguns jogadores que têm ou tiveram vínculos contratuais com o Palmeiras, como o lateral-esquerdo Vinícius, o meia-atacante Beto e o zagueiro David, que atualmente briga na justiça para se desvincular do clube alviverde — ele rompeu relações com Ortiz e hoje negocia para jogar pelo Panathinaikos, da Grécia.
A primeira reação de Ortiz, em uma reunião com Cipullo no escritório de advocacia do dirigente, foi negar a transação — ele confirmou ter feito o cheque em questão, mas “para um amigo”. Cipullo, nesta primeira reunião, confirmou serem de sua empresa os dados no comprovante e disse que teria que verificar o extrato para saber se o depósito de fato havia ocorrido e do que se tratava.
Depois de apresentada a justificativa do dirigente do Palmeiras em um segundo encontro, a reportagem tentou entrar novamente em contato com Marcelo Ortiz para confirmar a versão apresentada. Apesar dos recados deixados na caixa postal de seu telefone celular neste domingo e segunda-feira, o empresário não retornou as ligações.
A data do cheque e do comprovante de depósito obtidos pelo iG Esporte é 30 de abril de 2008. Perto dela não consta nenhuma grande transação de jogadores envolvendo o Palmeiras e Ortiz. Em 2007, as negociações para a trabalhosa renovação contratual de David com o Palmeiras ocorreram no primeiro semestre e, segundo a diretoria alviverde, não foram coordenadas por Cipullo, mas pelos diretores Savério Orlandi e Genaro Marino.
Sobre a possibilidade de o dinheiro depositado na conta de sua empresa se referir a uma comissão irregular por alguma negociação com jogadores, Cipullo foi enfático: “Sou um advogado que atua na área fiscal há 38 anos. Imaginar que eu vou receber uma bola [termo usado para designar comissão no meio futebolístico] não faz nenhum sentido, é me chamar de burro”.
No próximo dia 26, o Palmeiras promoverá eleições para definir seu presidente e quatro vice-presidentes. Tanto Gilberto Cipullo como Salvador Hugo Palaia são candidatos à vice-presidência do clube na chapa do economista Luiz Gonzaga Beluzzo. Cipullo, por estar prestes a completar um mandato como vice-presidente, pelo estatuto do clube passará a ser conselheiro vitalício do Palmeiras.
Excelente matéria do Portal Ig, publicada em Janeiro de 2009
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